O que é Blefarite?
A Blefarite é uma condição inflamatória da margem palpebral, normalmente devido à modificação do metabolismo das glândulas palpebrais, criando uma condição favorável para o crescimento bacteriano.
Quais são os Tipos de Blefarite?
A classificação da Blefarite é baseada na anatomia palpebral, de acordo com a região em que ocorre a inflamação. Se a inflamação é na lamela anterior da pálpebra, temos a Blefarite Anterior, se é na lamela posterior, temos a Blefarite Posterior e quando as duas lamelas estão acometidas pelo processo inflamatório, temos a Blefarite Mista.
1. Blefarite Anterior
A Blefarite Anterior, caracterizada pela inflamação na lamela palpebral anterior, pode ser de 3 tipos: Estafilocócica, Seborreica e pelo Demodex Foliculorum.
1.1. Blefarite Anterior Estafilocócica
A Blefarite Anterior Estafilocócica ocorre devido a uma resposta celular anormal aos componentes da parede celular da bactéria Sthaphilococcus aureus. Embora essa bactéria faça parte da flora normal das pálpebras, algumas pessoas desenvolvem o processo inflamatório com vermelhidão, edema e presença de crostas nos cílios.
1.2. Blefarite Anterior Seborreica
A Blefarite Anterior Seborreica ocorre devido a um excesso de produção lipídica gordurosa pelas glândulas de Zeiss, localizadas na lamela anterior das pálpebras. Podem ser vistas escamas, tipo crostas amareladas, nas bases dos cílios.
1.3. Blefarite Anterior por Demodex Foliculorum
A Blefarite Anterior pelo Demodex Foliculorum é a inflamação do bordo palpebral anterior causada pelo aumento da população deste ácaro, parasita que vive nos folículos capilares e glândulas sebáceas dos seres humanos. É mais comum em idosos e são observadas crostas e massas cilíndricas de queratina.
2. Blefarite Posterior
O termo Blefarite Posterior, também conhecido como Meibomite, é usado para descrever condições inflamatórias da lamela posterior da pálpebra, sendo a principal causa relacionada à Disfunção das Glândulas de Meibomius.
2.1. Meibomite
A Meibomite ocorre pela inflamação das pálpebras causada pelo metabolismo alterado das glândulas de Meibomius, condição atualmente descrita como Disfunção das Glândulas de Meibomius.
A estagnação da secreção na glândula de Meibomius promove o crescimento de bactérias, que aumentam a atividade das suas enzimas, deixam a gordura da glândula mais densa e geram ácidos graxos livres. Esses ácidos graxos livres causam inflamação das pálpebras, notada pela vermelhidão da lamela posterior das pálpebras.
3. Disfunção das Glândulas de Meibomius
O conceito clássico da Disfunção das Glândulas de Meibomius (DGM) é de uma anomalia crônica e difusa das glândulas de Meibomius, geralmente caracterizada por uma obstrução do ducto terminal e/ou alterações qualitativas/quantitativas da secreção glandular, sem necessariamente haver presença da inflamação.
Quando estas alterações geram o processo inflamatório das pálpebras, temos a definição clássica da Blefarite Posterior ou Meibomite (inflamação das glândulas de Meibomius).
A classificação da DGM baseada na característica da produção da secreção das glândulas gera 2 categorias principais: a DGM com baixa secreção e a DGM com alta secreção.
3.1. Disfunção das Glândulas de Meibomius Com Baixa Secreção
Na Disfunção das Glândulas de Meibomius com baixa secreção, as glândulas acumulam a gordura, que fica retida e não é liberada para a lágrima, como no processo fisiológico normal.
A DGM com baixa secreção pode ser do tipo Hiposecretora (Sicca Meibomiana) ou Obstrutiva, Cicatricial ou Não-Cicatricial. Cada uma dessas modalidades pode ocorrer de forma primária ou secundária, como exemplificado na figura acima da Classificação da DGM.
As glândulas de Meibomius normais produzem material gorduroso transparente e líquido, enquanto na sua disfunção, há obstrução dos poros e o material gorduroso torna-se mais denso e opaco.
3.2. Disfunção das Glândulas de Meibomius Com Alta Secreção – Hipersecretora Seborreia Meibomiana
Na Disfunção das Glândulas de Meibomius do tipo Hipersecretora, as glândulas produzem excesso de gordura, que forma uma camada espumosa na borda posterior palpebral, denominada seborreia meibomiana.
Alguns cientistas propõem que é a própria disfunção das glândulas que produz essa secreção espumosa, em vez do óleo da glândula normal. Outros postulam que a espuma é resultante da saponificação dos lipídios do filme lacrimal, provocada pelas enzimas bacterianas.
4. Blefarite Mista – Blefarite Anterior e Posterior
A Blefarite Mista é a ocorrência simultânea da Blefarite Anterior e Posterior, com inflamação das lamelas palpebrais anterior e posterior.
Quais os Sintomas da Blefarite?
Existem pacientes com Blefarites sem sintomas, muito embora a grande maioria apresenta sintomas clínicos.
Os sintomas palpebrais mais comuns são devido à inflamação: prurido (coceira), hiperemia (vermelhidão), edema (inchaço), perda dos cílios (madarose), triquíase (crescimento dos cílios invertidos para dentro) e sensação de pálpebras coladas.
Os sintomas oculares devido ao Olho Seco são: lacrimejamento, ardência, sensação de corpo estranho, hiperemia ocular (vermelhidão) e visão borrada para ver de perto.
A Blefarite pode estar associada aos processos infecciosos recorrentes das glândulas, denominados hordéolos ou terçol, com também aos processos inflamatórios granulomatosos crônicos das glândulas, denominados de calázio, descritos em detalhes nas Sessão Doenças – Hordéolo e Calázio.
Por que a Blefarite causa Olho Seco?
Nas condições fisiológicas normais, a produção da gordura pelas glândulas de Meibomius forma a camada lipídica, mais externa, do filme lacrimal. Essa camada gordurosa forma uma película protetora estável, que impede a evaporação da lágrima durante o intervalo entre as piscadas. Na anatomia ocular normal, existem, em torno de, 25 a 40 glândulas de Meibomius na pálpebra superior e 20 a 30 na pálpebra inferior.
A Blefarite é a maior causa de Olho Seco, sendo geralmente o fator causal de, aproximadamente, 50% dos casos de Olho Seco.
Quando a camada gordurosa das glândulas de Meibomius está em disfunção e, geralmente, diminuída no filme lacrimal, não mais consegue manter o efeito protetor e a água rapidamente evapora, deixando a lágrima com instabilidade.
Quais as Causas da Blefarite?
A Blefarite é uma doença comum que pode atingir pessoas de todas as idades, com predominância nas mais idosas.
Sua presença pode estar relacionada aos distúrbios hormonais, como na menopausa, à dieta com alimentos gordurosos e com alterações dermatológicas, como Dermatite Atópica, Dermatite Seborreica e Acne Rosácea.
Os tratamentos hormonais com a reposição de estrógeno em mulheres e terapia anti-androgênica em homens têm sido associados com a Blefarite, assim como o tratamento dermatológico da Acne com isotretinoína por vial oral ou tópica.
Alguns fatores que podem estar associados à Blefarite são: o uso excessivo de lentes de contato, o uso de maquiagem, a tatuagem palpebral e a exposição aos agentes irritantes do meio ambiente que predisponham à Blefarite Alérgica e as situações emocionalmente estressantes.
Atualmente já é sabido que 70-80% das pessoas que apresentam a Síndrome Visual do Computador têm Blefarite associada, pois a diminuição do piscar estimula menos a liberação do material das glândulas palpebrais. Outras atividades que demandam atenção contínua, como leituras prolongadas ou uso de microscópio, também podem estar associadas à maior prevalência da Blefarite.
Qual o Tratamento da Blefarite?Qual o Tratamento da Blefarite?
A Blefarite é uma doença crônica e não tem cura. No entanto, o tratamento é muito eficaz e deve ser contínuo, para o adequado controle dos sintomas. Quando o tratamento é interrompido, os sintomas tendem a retornar rapidamente.
1. Higiene Palpebral
A higiene palpebral diária é o primeiro passo para o tratamento da Blefarite e deve ser realizada em 3 etapas:
1.1. Aquecimento das Pálpebras
O uso de compressas mornas favorece o amolecimento das secreções gordurosas solidificadas, sendo convertidas novamente em óleo, permitindo que se forme a camada lipídica do filme lacrimal e retardando a evaporação da lágrima.
1.2. Massagem das Pálpebras
A massagem das pálpebras permite eliminar as secreções gordurosas liquefeitas das glândulas após o aquecimento com as compressas mornas.
1.3. Limpeza das Pálpebras e Margem Palpebral com Xampu Neutro
A limpeza das pálpebras e margem palpebral com xampu neutro tem a função desengordurante da base dos cílios para melhora da Blefarite.
Nos casos de Blefarite Anterior por Demodex Foliculorum, os xampus neutros associados ao óleo de melaleuca são indicados para o controle parasitário, além do tratamento por via oral com a Irvemectina.
2. Colírios Lubrificantes
Os colírios lubrificantes possuem propriedades químicas parecidas com as da lágrima natural e são prescritos para substituir a lágrima na função de manter o olho umidificado e protegido.
Para casos de olhos secos leves, pode-se usar lubrificantes com conservantes até 4-6 vezes ao dia. No entanto, os colírios lubrificantes sem conservantes, líquidos e especialmente em gel, são os ideais, principalmente para os casos mais graves e com necessidade de uso maior que 6 vezes ao dia.
Os colírios lubrificantes com conservantes contendo cloreto de benzalcônio e o EDTA assim como os colírios com vasoconstrictores que não possuem ação lubrificante devem ser formalmente evitados para não agravarem os sintomas do Olho Seco.
3. Suplementação com Ômega 3
Os ácidos graxos essenciais não são produzidos pelo organismo e precisam ser obtidos pela dieta.
A propriedade antiinflamatória do ômega 3 ajuda na regulação das glândulas palpebrais e no estímulo da produção de lágrimas pela glândula lacrimal.
A sua ingesta pode ser realizada com alimentos, bem como com suplementação de cápsulas de óleo de peixe e óleo de linhaça. O ômega 3 é encontrado em grande quantidade nas peles dos peixes sardinha, arenque, salmão e atum, nos óleos vegetais, nas nozes e nas sementes de chia e linhaça.
4. Pomadas e Colírios de Antibiótico e Corticóide
Quando o processo inflamatório da Blefarite é intenso, o uso de pomadas e colírios com antibiótico e corticóide melhoram as reações inflamatórias. Esses medicamentos só devem ser utilizados com prescrição médica e monitorização oftalmológica, pois o uso crônico de antibióticos pode causar resistência da flora bacteriana e o uso crônico de corticóides pode causar glaucoma e catarata.
5. Antibióticos Via Oral
Nos casos de Blefarites intensas e resistentes ao tratamento convencional, o uso de antibióticos por via oral, como a tetraciclina ou seus derivados (como a doxiciclina), é indicado para amenizar o processo inflamatório.